segunda-feira, 31 de março de 2014

Henrique Avancini Comenta a sua participação no Panamericano de Mountain Bike 2014

O único motivo que tive pra comemorar ontem foi por ter completado 25 anos. Esse Campeonato Pan americano foi uma experiência bem amarga.
Pra mim, seria a principal competição do ano até então e todo o planejamento de treinos e calendário foi voltado para o melhor rendimento na prova.
Declarei que iria largar para vencer, não para fazer um bom resultado. Geralmente eu largo pensando em uma boa performance, sem pensar muito em colocação.O resultado só tem um peso grande em minha mente quando eu não quero ninguém na minha frente, ou seja, quando eu quero vencer.


Acho importante assumir esse tipo de carga para algumas corridas, pois sob pressão o amadurecimento é maior. E o Pan, foi uma ótima oportunidade pra eu crescer como atleta. É muito importante aprender a assumir a responsabilidade, suportar a pressão e não se abalar com as expectativas externas.
Sinceramente, cheguei para o Pan com a cabeça e corpo, muito bem preparados. Estava bem na pista, confiante e motivado e sabia que se dependesse de mim as chances de vitória eram grandes.
Largamos às 15:15 para 7 voltas e já no começo da primeira volta o Rubinho colocou o ritmo, e puxou forte. No meio da primeira subida, que era a mais longa, o pelotão já começou a ficar reduzido e eu avisei ao Rubinho que os caras estavam “pingando”. Peguei a ponta no meio da subida e dentro da mata, no topo do circuito, abri uma diferença bem pequena, mas já deu pra sentir que eu estava rápido. Segui com mais cautela, pois ainda não era a hora de forçar o ritmo pra ir embora.
Chegando na parte final do circuito que tinha várias subidas íngremes intercaladas com descidas técnicas, eu cometi um erro. Havia uma sequencia de dois duplos, que não eram difíceis de pular, mas a entrada para os saltos era muito ruim. A dificuldade – pelo menos pra mim – era acertar a velocidade de entrada, porque era em curva e logo após o ponto de apoio. Não sei como errei, mas tomei um capote forte. Levantei, perdi algumas posições e depois da pancada, não consegui impor o mesmo ritmo imediatamente. Machuquei o quadril direito e torci o pé direito. Estava com dor, mas eu larguei pra dar tudo e arriscar tudo, e até então era fácil suportar a dor. Cai para a oitava colocação, mas logo depois acordei novamente e já fechei a volta na segunda colocação no grupo líder.
O maior problema, foi que percebi que o pneu traseiro tinha perdido pressão, provavelmente com a pancada do tombo o pneu se deslocou e perdeu ar. Como o circuito tinha piso duro, larguei com 25psi,mas mesmo com o pneu mais vazio, se segurasse pelo menos umas 20psi, eu assumiria o risco de fazer mais força, pois ainda me sentia muito bem.
Na segunda volta a corrida começou a ficar mais selecionada. Apesar de estarmos andando em pelotão, em alguns momentos ficava mais evidente que o campeão norte-americano, Stephen Ettinger, era quem reagia melhor. No fianl da volta o grupo estava selecionado: Eu, Ettinger, Gagne e Zansdra(Canadá) e Castañeda(Colômbia) que era quem mais sofria para se manter no grupo.
Na terceira volta, tive que estudar duas coisas. Se o pneu continuava esvaziando e como os canadenses iam se comportar na corrida, já que eram os únicos com condições de correr em equipe. Na subida mais longa, o Ettinger colocou um ritmo forte e foi abrindo aos poucos. Então os canadenses reagiram juntos...Beleza, eu sabia que os dois reagiriam aos ataques do americano então eu não precisaria me preocupar em tomar a atitude sempre que ele atacasse.
A má notícia, é que nessa volta o pneu começou a dobrar muito nas descidas...mas ainda dava pra ir e eu me sentia com margem para empurrar um pneu mais vazio. Na quarta volta, avisei no apoio que iria trocar a roda e comecei a atacar na subida. Só o Ettinger reagia, os outros aparentavam estar em dificuldade. Era um bom indício, pois eu conheço bem o Ettinger e sei que é um atleta de “ritmo”, então mesmo que eu sofresse muito para segurar as pontas junto com ele, se a prova fosse para o sprint, eu teria mais chances. O meu objetivo na quarta volta era fazer em ritmo forte para quebrar um pouco as pernas deles e assim inibir o ritmo na volta seguinte, quando eu trocasse de roda. Consegui uma pequena vantagem e então cometi meu maior erro: Não troquei a roda.
Foi uma daquelas atitudes de corrida, onde você deve pensar muito rápido com pouco sangue no cérebro, que você se arrepende. Na quinta volta no começo da subida longa, o pneu deu a primeira dobrada subindo. E quando dobra subindo o preço fica alto. O Ettinger percebeu e atacou. O Gagne e Castañeda já começaram a sobrar dele, mas eu segui sem me apavorar. Se eu tentasse ir atrás com pneu vazio, eu iria gastar muita força, então o melhor seria respirar um pouco e aproveitar para tentar recuperar. Depois que eu trocasse a roda, eu ainda teria 2 voltas e meia pra tentar alguma coisa. Cheguei no apoio, em quarto, sem perder mais nenhuma posição. Quando parei para trocar a roda. O outro canadense vinha na reta oposta, a uns 15 segundos. Seria o tempo para trocar a roda e voltar pra prova com ele. Mas ai começou a dar tudo errado de verdade. A roda não entrava...simplesmente não entrava. Passou o canadense e depois começaram a passar os atletas que estavam longe. Pscheidt, Paxson, Gasco, Puschel, quando a roda entrou. Sai e andei uns 50metros e núcleo do cubo estava travado. Mamma mia!!! Meu mecânico, teve que correr, tirar a roda, tirar o cassete pra destravar o núcleo com uma chave de fenda e depois colocar a roda de novo...Perdi muito tempo, mas pior do que tempo é perder o prazer na corrida(Aproveito para pedir desculpas ao Paulinho Correa de Juiz de Fora, que estava como fiscal na area de apoio fazendo o trabalho dele, e quando ele me orientou pra chegar mais pro lado, fui extremamente rude. Desculpe a grosseria Correa). Quando você larga pra vencer e tudo fica perdido a vontade acaba.Tentei reagir, mas já não tinha aquela força interna. No final o saci de patinete, podia me passar que eu não ia ligar.
Só segui na prova, porque detesto abandonar corrida e seria um desrespeito com todos que estavam me apoiando. Na última volta começou a chover muito e ainda tomei mais um tombo pra completar o dia.
Cruzei a linha em 11°, com uma frustração que não cabia no meu peito.
Queria muito vencer a prova, e trabalhei muito pra isso, chegando em condições pra conquistar o ouro.
Quero agradecer MUITO, a todos que foram torcer (e torceram muito) por mim. Vocês deram um espetáculo a parte e foi incrível o carrinho e força que vocês me deram. Fiquei triste de não corresponder com o resultado almejado ma se vou guardar uma boa lembrança deste dia, vai ser o carrinho e apoio que tive na pista. Obrigado de coração!A temporada até aqui está com saldo mais do que positivo. As pernas estão boas, então, dias melhores virão.


fotos: Alan Pacheco - Click Digital